# Dias de emergência ( feat. Them)
Lisboa, hoje, 18 de março de 2020,século XXI.
as ruas estão desertas. os carros todos estacionados. um dia espetacular de sol e calor.
perfilados lá estavam eles, de máscara branca ou verde, junto à farmácia. numa rua ou noutra que percorro de carro há pessoas de máscara e de passo lento, como se estivessem a digerir este filme que está nas nossas vidas, desde há quase uma semana.
no minimercado do indiano alguém lhe pergunta se tem café em inglês. à janela, um casal jovem discute porque têm pouca rede de telemóvel em casa e dizem bem alto que têm medo que a Internet vá abaixo com toda a gente em casa.
encontro vizinhos com crianças que estão visivelmente alteradas com esta mudança nas suas rotinas. dizem-me para ir com o meu filho mais novo para um zona perto da praia que não tem ninguém porque precisa de sol e de ar.
15h30 mais ou menos. Fala o PM na televisão. Estado de Emergência.
Vejo a votação na AR, às 20h o PR confirma.
Para nosso bem ficamos confinados. Podemos sair para correr sozinhos, para ir ao super , à farmácia, pôr gasolina. Para nosso bem e dos outros ficamos confinados para não se ter de escolher entre os que vivem e os que morrem, como em Itália, em claro cenário de guerra.
Uns estão em casa em teletrabalho, outros ao serviço com restrições, uns em trabalho de casa e de filhos, outros vão para casa já despedidos antes da grave crise económica que assolará o país e a Europa.
Toda esta paragem forçada remete para algo positivo: o civismo, a união, a solidariedade, a noção de família e de amizade, a ligação entre as pessoas por fios invisíveis.
No meio de tudo isto conduzir com o vidro aberto num dia de calor, livremente, e abraçar os meus, só em absoluta emergência. É isto que custa mais. Oxalá voltemos a um estado de normalidade em breve.
@mmalheiro
aos italianos
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