# Ao primo que oferecia poemas (feat. António Ramos Rosa)
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em memória de M.Fernandes, o primo que oferecia poemas aos outros, deixo um poema do Mestre Ramos Rosa.
"O astro"
Ouve a longa incoerência da palavra e a memória
do sangue que se apaga. Ouve a terra taciturna.
Tudo é fugitivo e a sombras não acolhem. nenhum jardim
de segredos. Nenhuma pátria entre as ervas e a areia.
Onde é que nasce a sombra e a claridade?
Eis as vertentes da terra árida e seca. Quem
reconhece o equilíbrio das evidências serenas?
Estas palavras têm o odor de portas enterradas.
Como dominar a desmesura da ausência e a vertigem?
Como reunir o obscuro em palavras evidentes?
Escuta, escuta a longa incoerência da terra
e da palavra. Ao longo da distância
murmura a perfeição monótona de um mar.
Num pudor de esquecimento um astro se aveluda
em denso azul na corola do silêncio.
António Ramos Rosa
@mmalheiro
aos meus pais