# 823- Um ofício que fosse de intensidade e calma e de um fulgor feliz
Um Ofício que Fosse de Intensidade e Calma
Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios
António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"
Pergunta esta escrevente se em 2013 terá capacidade de continuar a escutar sons, ler textos, gostar das pessoas, com o mesmo "fulgor feliz" de todos os anos.
Desejo a todos os que fazem parte da estatística que grassa esta jangada de pedra um ofício "de intensidade e calma e de um fulgor feliz".
Tame Impala, Apocalypse Dreams, 2012
@marinamalheiro