Naquele dia a sala estava incrivelmente vazia. Havia lugar para estacionar. Oito da noite de domingo, um domingo quente, que parecia de Verão. Tu ardias em febre, mal sentias as pernas e envelheceste subitamente dez anos. Irreconhecível. Tal como sempre nos deste a mão pela vida fora, naquele dia fomos nós os teus pais. É assim com imensas famílias diariamente na rotina deste hospital especial onde "há tempo para dar carinho e atenção aos doentes". Assim foi.

No dia seguinte a sala abarrotava de pessoas que tiveram o azar de ter fraca imunidade à doença, de todas as idades, de todas as profissões, classes sociais, homens e mulheres. Na primeira vez que lá entrei só me apetecia fumar e não fumo. Agora ultrapassei isso, pois olho para todos os que ali estão, doutorados em coragem. Um familiar meu, muito jovem, percorre comigo o corredor do SO e diz "isto nunca poderia ser para mim, não é o sangue, é a imensa capacidade que se tem para aguentar isto." os valores subiram, já há uma alteração razoável. Vai medicada para casa. ", diz o médico. 

@mmalheiro

À equipa de Hematologia do IPO

à minha querida mãe

 o que é o tempo e a distância que separa as pessoas?

parece uma pergunta sem resposta aparente.

mesmo com distância há sempre amor e ternura, quer num plano terreno , quer num plano que está para além de tudo o que sabemos e podemos explicar.

um fio invisível que nunca deve ser partido.

ao meu tio João, in memoriam

à minha mãe

[com imensas saudades das tuas piadas inteligentes]

@mmalheiro