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Cruzam-se connosco por circunstâncias várias , personagens que facilmente seriam de uma novela russa, dobrando a roupa como se dobrassem sentimentos , ocultando verdades. "Dá uma história", pensamos. Outras deixamo-las, para sempre, numa caixa de pandora.
Felizmente há muitas que transparecem em beleza aquilo que são.
Detemo-nos, então, na escrita dos outros, na maravilhosa capacidade de transfigurar o sentir e o imaginar transportando-nos para esse mundo único.
149 anos depois da primeira publicação e 31 anos depois da primeira leitura eis-me de novo , no tomo I desta beleza :
" (...) O Escócia não havia abalroado, mas tinha sido abalroado e por um instrumento mais cortante ou perfurante do que contudente. A pancada havia sido tão leve que ninguém a bordo se preocuparia se não fossem os gritos dos marinheiros do porão , que subiram ao convés gritando:
-Afundamo-nos! Afundamo-nos!
A princípio, os passageiros ficaram muito assustados, mas o capitão Anderson apressou-se a tranquilizá-los, explicando-lhes que o perigo não podia ser iminente. O Escócia , dividido em sete compartimentos estanques,estava preparado para enfrentar impunemente um rombo no casco."
Vinte Mil Léguas Submarinas, Júlio Verne, 1869, Amigos do Livro Editores, Tradução revista por F.Romão
Tal como o capitão Anderson muitas vezes deparamo-nos com navios a afundar em nós e a termos de parar , para verificarmos a extensão da avaria e prosseguirmos sozinhos a viagem, muito dura e difícil, numa doca seca, atravessando o belo mar.
[à minha amiga Carla Laranjo, com amizade]
@mmalheiro
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