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http://jazzística.blogs.sapo.pt

Blog de poesia , música e olhares de Marina Malheiro, aprendiz de poesia

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Blog de poesia , música e olhares de Marina Malheiro, aprendiz de poesia

# Giselle

30.08.11 | marina malheiro

Pina Bausch

 

escutando Jorge Palma  e relembrando Pina que dançava poemas livres e sentidos

 

 

Jorge Palma, Giselle, Álbum Com uma viagem na Palma da mão, 1975 ( todos os direitos reservados a Jorge Palma)

 

@mmalheiro

# Tangerine & A.O'Neill

29.08.11 | marina malheiro

 

Led Zeppelin, Tangerine, (Álbum Led Zeppelin III)

 

"Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloqial, a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!

 

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

 

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

 

não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,

 

galo que cante a cores na minha prateleira,

 

alvura arrendada para o meu devaneio,

 

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

 

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

 

golpe até ao osso, fome sem entretém,

 

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

 

rocim engraxado, feira cabisbaixa,

 

meu remorso,

 

meu remorso de todos nós..."

Alexandre O'Neill, in "Feira Cabisbaixa", 1965

 

No dia em que se anunciam manifestações em Outubro em Lisboa e no Porto contra os cortes no bolso já tão pequeno dos portugueses e se sabe que em Setembro virão 75 novas medidas .

No dia em que os utentes das linhas de Cascais e Sintra se manifestaram contra os aumentos nos preços dos transportes, tão actual continua O'Neill e a sua "Feira Cabisbaixa"...

 

@mmalheiro

# Traveller

25.08.11 | marina malheiro
Sandy Denny, Listen, Listen, 1972 (Álbum Sandy)
 
Esta é uma das músicas que traz chuva cá dentro mas também soa a determinação, a liberdade, a caminho novo.
 
Sandy Denny foi cantora e compositora, vocalista do grupo Fairport Convention. Entre 1971 e 1977 lançou 4 álbuns a solo, foi também vocalista convidada no álbum dos Led Zepplin (Led Zepplin IV (1971)).
 
Para saber mais siga o link http://www.fairportconvention.com/

# A JL Borges

24.08.11 | marina malheiro

 

 

" A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou."


Jorge Luis Borges,

 

 Elogio da sombra, 1969

Tradução Carlos Nejar e Alfredo Jacques

 


Carlos Gardel, Tango Por una cabeza (1935/Carlos Gardel e Alfredo Le Pera)

 

 

 A JL Borges que amava a Vida mesmo que sombras houvesse

 

@mmalheiro

 

 

 

 

 

# S.Bento & S.Reich

23.08.11 | marina malheiro

Estação de S.Bento, Porto (autor desconhecido)

 

Foi considerada uma das 14 estações mais belas do mundo pela revista Travel+Leisure segundo notícia de hoje no jornal Público

 

Também a estação de Chhatrapati Shivaji em Bombaim está na lista das mais belas ( foto National Geographic)

 

"Diz-se que é preciso viajar para ver o mundo. Por vezes, penso que, se estiveres quieto num único sítio e com os olhos bem abertos, verás tudo o que podes controlar."

Paul Auster

 

 

 

Steve Reich, Pat Metheny, Kronos Quartet, Different Trains, 1988

Different trains é um de três movimentos da peça para quarteto de cordas de Steve Reich.

Durante  os anos da guerra, Reich viajou de comboio entre Nova York e Los Angeles para visitar os pais que se tinham separado. Se tivesse vivido na Europa e como era judeu, poderia ter viajado em comboios do Holocausto.

Ganhou o Grammy 1990 para melhor composição clássica contemporânea.

 

Para saber mais sobre este grande compositor siga o link

http://www.stevereich.com/

 

@mmalheiro

 

# Cartier-Bresson

22.08.11 | marina malheiro

Foto de Marilyn por Henri Cartier-Bresson no cenário do filme The Misfits (1961)

© Henri Cartier-Bresson

 

No dia do nascimento deste grande fotógrafo, o pai do fotojornalismo e fundador da agência Magnum

 

As  200 fotografias deste filme foram compiladas num livro publicado em Maio - "The Misfits. Story of a Shoot" - para saber mais siga o link

http://www.magnumphotos.com/

 

 


The Misfits (1961)

 

 

 

 @mmalheiro

# A.O' Neill & Velvet Underground

21.08.11 | marina malheiro
Velvet Underground, I found a reason, Álbum Loaded (1970)
 
(O Amor é o Amor ) O amor é o amor — e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos — somos um? somos dois?
espírito e calor!

O amor é o amor — e depois?

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'

 

Ao grande poeta Alexandre O'Neill, um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa,  que nos deixou há 25 anos

para saber mais siga este link  

 

@mmalheiro

 

# Valsando com Lorca

20.08.11 | marina malheiro

 

Foto de Federico Garcia Lorca ( autor desconhecido)

 

75 anos após a sua morte , vítima da guerra civil espanhola, publico um poema lindo que será sempre eterno como todos os poemas de Lorca. Valsando com a poesia de Federico Garcia Lorca.

 

 Este é o prólogo

 

Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!

Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!

Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.

Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.

Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.

Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.

Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.

Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!

Deixaria no livro
neste toda a minha alma...

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'
Tradução de Oscar Mendes

 

via www.citador.pt

 

 

 

 @mmalheiro

 

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