" (...) Não era Monte Carlo que eu via. Era a recordação longínqua de um jovem que andara pelas ruas de Nova Iorque com remendos de cartão nas solas dos sapatos. Tornei a ser ele: por um instante, tive a sorte de compartilhar os seus sonhos, eu que já não tinha sonhos próprios. E ainda hoje há ocasiões em que lhe caio em cima, em que o apanho de surpresa numa manhã de Outono em Nova Iorque, ou numa noite de Primavera na Carolina, quando está tudo tão tranquilo que se pode ouvir um cão que ladra na aldeia vizinha. Mas nunca mais voltou a ser como durante esse espaço tão breve em que ele e eu fomos a mesma pessoa, em que o futuro realizado e o passado ansioso se fundiram num só momento maravilhoso, em que a vida era literalmente um sonho. (...)
F. Scott Fitzgerald, "Adormecer e despertar" in The Crack up, Quetzal, Março de 2011 , p. 86
"The time is in the street you know. Us living as we do upside down. And the new word to have is revolution. People don't even want to hear the preacher spill or spiel because God's whole card has been thoroughly piqued. And America is now blood and tears instead of milk and honey. The youngsters who were programmed to continue fucking up woke up one night digging Paul Revere and Nat Turner as the good guys. America stripped for bed and we had not all yet closed our eyes. The signs of Truth were tattooed across our open ended vagina. We learned to our amazement untold tale of scandal. Two long centuries buried in the musty vault, hosed down daily with a gagging perfume. (...)"
Gil Scott Heron faleceu ontem, vítima de doença. Foi poeta, compositor e músico. Conhecido por divulgar a "arte de dizer" nos anos 70 e 80.
A sua música reflecte a fusão do blues, da soul e do jazz. As suas letras, como é o caso da que coloco acima, expressam as suas preocupações políticas e sociais. Em 2010 editou o último álbum "I'm new here".
Como toda a discografia deste músico é muito interessante e rica em melodia e mensagem política, tornou-se difícil encontrar a melhor.
No dia em que 500 pessoas se manifestaram contra o FMI e em prol da liberdade política, independente da Economia, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e em que algumas se concentram há dias acampados no Rossio, tal como em Espanha (Madrid), esta música " dita" de Heron pareceu-me a mais adequada ao momento e à homenagem.
in Stars and Constellations (Via Facebook)- Via Láctea/ Foto de Doug Klembara ( todos os direitos reservados)
Zeca Afonso, Utopia in Como se fora seu filho, 1983
Ouvindo Zeca Afonso na Via Láctea:
" Cidade sem muros nem ameias Gente igual por dentro Gente igual por fora Onde a folha da palma afaga a cantaria Cidade do homem Não do lobo, mas irmão Capital da alegria (...)
Aos que acreditam na Utopia , na liberdade e na democracia mesmo no tempo dos valores ausentes.
em passo de corrida, segue no meio da multidão, contornando as fiadas de tempo incerto e agarrando o dia quente como se fosse aquela mão tua, necessária e presente. procurando as novas sapatilhas de corrida...
Corrida Ponte 25 de Abril ( Março 2011) * Foto minha
Na noite em que se anunciou o vencedor do Festival de Cannes, "The Tree of life" e se encontra a música perfeita na espuma dos dias.
"Quand j'avais six ans, la première fois Que papa m'emm'na au cinéma Moi je trouvais ça Plus palpitant que n'importe quoi Y avait sur l'écran des drôl's de gars Des moustachus des fiers à bras Des qui s'entretuent Chaqu' fois qu'i trouvent Un cheveu dans l'plat ! Un piano jouait des choses d'atmosphère Guillaum' Tell ou l'grand air du Trouvère Et tout le public en frémissant S'passionnait pour ces braves gens Ça coûtait pas cher On en avait pour ses trois francs (...)"