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http://jazzística.blogs.sapo.pt

Blog de poesia , música e olhares de Marina Malheiro, aprendiz de poesia

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Blog de poesia , música e olhares de Marina Malheiro, aprendiz de poesia

Corria em fiadas

28.03.10 | marina malheiro
Portished, Gloomy Sunday

Corria em fiadas

Pelas ruas movimentadas

Por sobre o asfalto

No qual galgam carros e motos apressadamente

Em contínuo

Gota a gota

 

Via-o passar

Veloz

Radiante

E obscuro

 

Não o podia moldar

Como barro nas minhas mãos

Não o podia deixar cair

E não pensar nem de

Mais

Nem de Menos

 

Só o podia seguir

Na alvorada

No luar

Na esperança estrelada

Por sobre os meus sonhos

 

 

 

Desenhar no espaço os sorrisos

Imperfeitos

Desconexos

Pincelar a Saudade

Com o Mar

Gritar bem alto: quero ficar!

 

Mas não sei quanto dura a minha Hora

Por isso fruir-te ,

Agarrar-te por entre os meus finos dedos

E dizer és meu por Agora, ó tempo!

 

MC 25012010

 

 

Trilhos

28.03.10 | marina malheiro

 

 Jeanne Moreau e Miles Davis, (Louis Malle, 1957)

Por sobre os trilhos

Vai-se desenhando o quadrado

Na alma jovem

Na alma velha

Seguindo um destino

 MM 2112009

Um fado

28.03.10 | marina malheiro

Carlos Paredes, Verdes Anos

 

Um Fado

 

Abre-se agora o caminho

Desço no elevador da Bica até à Boavista

Sinto o cheiro a maresia

A luz perpassa os corpos

Encolhidos no espaço

Rectangular de madeira antiga

Sou Lisboa!

 

Começa o Fado

A letra está desenhada na palma da mão

Na minha

Na tua

Na dos outros

Canto-a à minha maneira

Sentida e dura

Quebrada pela melodia

Que ecoa pura, singela

Mas obscura.

 

Ao Largo do Conde Barão

Lá está a árvore onde repousam

Os meus pensamentos,

A minha mão pura e escura

E o som do trinar da guitarra

De um anjo fadista.

Subo à Rua dos Mastros

Onde outrora marinheiros e varinas

Gingavam ao som do mar

Rasgando as  suas melodias

De búzios, conchas e poesia.

 

No empedrado da rua que ali está encoberta

Pelas gaiolas pombalinas

Avança o carro

E o caminho abre-se lento e luminoso

Aguarda-me enfim a Igreja do Convento de Jesus;

Branca, imponente, severa!

 

Ao longe a Assembleia dos Homens Ilustres

Desenha-se por entre os telhados vermelhos

Os sinos tocam a rebate

Anuncia-se a Hora!

Sigo à Estrela

E por entre as árvores, as fontes, a melodia

Encontro a tua palma pequena, suave e luminosa

Trazes as palavras nas mãos

Os sonhos em fiadas

Os trabalhos em desgarradas

E a guitarra trina

Trina, trina

 

Desço ao Rato

As mãos fecham-se aos trabalhos

Abrem-se numa súplica miserável

E tu, pequeno

Pedes a Lisboa

Um agasalho de esperança

E um punhado de coragem

 

 Segues o teu fado por entre as ruas e vielas

A Severa chama-te ao Bairro Alto

E a rua de Rosa no nome

Traz-te os cheiros

Da mourama

Do oculto

Do incerto!

 

Um dia as tuas pequenas palmas

Tocarão com força nas minhas

E sentado à soleira da porta velha e gasta

Procurarás a melodia que hoje escrevo

Sobre o Fado de Lisboa

Entre as cordas da guitarra

Soltarás a tua música

E rima

E com ela encontrarás

O teu caminho claro e perfeito

Por entre as nuvens da imaginação!

MC130609

 

 

 

AVE MUNDI

28.03.10 | marina malheiro
 Rodrigo Leão, AVE MUNDI

Ave Mundi

 

Somos todos  aves

Assim deveremos ter chegado aqui

À existência pura e ilimitada

 

Rodeámo-nos de espíritos bons e maus

Escolhemos o nosso voo

Picado, tremente, alado

 

Seguimos o trilho da nossa consciência

Que, de livre arbítrio ,

Às vezes

Nada tem,

Enclausurado numa dimensão única

Que nos transcende

A divina

 

A vida é breve

Dura às vezes um sopro

Um punhado de areia

Um fio de água

Um anoitecer magenta

 

De mãos abertas

Escorrega-nos pelos dedos

Imparável

Em pensamento

A memória de um sorriso

De um cheiro

De um abraço

De um desenho imperfeito

De um recorte no céu quando duas almas se cruzam

 

Nesse momento batem-se as asas

Descompassadamente

Maquinal, o coração  sucumbe

Subimos então ao ajuntamento de nuvens

Brancas, dançantes, desenhos perfeitos

Num filme por nós criado.

 

Lá em baixo, onde tudo é mutável e perene

Arranca-se a dor do peito

Caminha-se pela saudade fora

Anula-se a alegria

No entanto, não se rasga a Memória

Essa fica

sólida, única, durável

Durante o pranto,

O sono,

O fado .

 

E assim caminhamos entre as nuvens e a saudade

Talvez aí esteja o encanto

A música rendilhada em verso

O divino mistério

Sem solução

Sem quebranto

Infindável

Único

 

MC120709

 

 

 

 

 

 

 

Amigos

28.03.10 | marina malheiro
Billie Holliday, It had to be you

Sob o verde da árvore que ladeia a Igreja

Seguro saudosa a amizade

Aperto junto ao peito

O sorriso

Na verdade

tardo

 

 

O caminho faz-se de pequenas brisas

O sol encadeia-me o pensamento

Cruzam-se no ar as ideias

Vivas, coloridas

Não há lamento

Choro

Fotografo a vida

Com a minha lente

Filtro o remanescente

 

A peneira está nas minhas mãos

E fina a areia esvoaça

Por entre os meus dedos

Dança no ar

 

Acompanho o pulsar das ruas

Das gentes

Frenéticas

Ao poente

 

estará esperando

Saudoso

O meu amigo

Como nos cantares de antigamente

Ai deus u é

D. Dinis e Isabel

Juntos

Num ideal convergente

Portugal

Sonhado

Diferente

Pobre

Contente

 

 

Leva nas mãos o livro

Isabel pela verdura

Vai formosa e segura

Na vida

Que agora se ilumina

Tangente

Mesurável

Nos fios das linhas da existência

Procura o caos calmo

e sobre o mar azul

caminha.

 

MC160609

 

Sempre aqui

27.03.10 | marina malheiro

Sempre aqui

Corpo sólido

Alma recolhida no tempo

Nas águas

Submerso

 

Sempre aqui

Alma escrevente

Jazística

Colorida

Reluzente

 

Sempre aqui

Agora

Mãos abertas

Ao Tudo

 

Sempre aqui

 

20100327 MM

Nina Simone, If you Knew 

 

 

Vagabundo

27.03.10 | marina malheiro

Música para desfrutar a Vida! Trio Sassetti, Motion, 2010

 

Somos todos vagabundos nesta vida

procuramos apenas o Caminho.

 

Largo do Rato

27.03.10 | marina malheiro

Desço o Largo do Rato

À minha velocidade

Lesta

 

Aí te encontro

Como sempre

À tardinha

Na azáfama dos corpos

Junto à sinalefa

 

De jornal em riste

Disparas um boa tarde

Tocas no vidro fechado

 

Não há abertura

Sorriso

Para o teu disparo

Indiferente acelero

O meu egoísmo é mais importante

Não raro

 

O sinal muda

E as tuas mãos desistentes

Recolhem-se

 

Não tens amparo

Um trabalho

Pago

Acabarás as leituras dos teus jornais á tardinha

Deitado no banco de jardim

 

O vento te dará

Um afago

Breve

Suave

 

 

Jantarás um cigarro

 

A chuva salpicar-te-á

O corpo quebrado

Submisso

Em abandono

 

Amanhã lá estarás

De novo

Ao Largo do Rato

De jornal em riste

Escorrendo água

À espera de um leitor de notícias velhas e gratuitas

 

Nesse dia

Dormirás em cama de dossel

Na Estrela junto às flores perfumadas

Jantarás pão e tinto

O vento te dará

Um afago

Sob a noite estranha

 

Nessa madrugada

A notícia serás tu

Objectiva

Jazente

Sob a estranha felicidade

Da tua vida breve.

 

 

MC 210409

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