1836- Numa praia distante (feat. Judy Collins)
pintura de john morris
no dia em que o meu pai partiu houve quem me dissesse cruamente " não há nada que te possa dizer para diminuir a dor". é verdade. as palavras maternas suavizam, acarinham, os amigos são uns queridos em preocupação mas nada há que apague o facto que nunca queremos que nos aconteça, o de ficarmos sem os nossos pais.
todos os livros remetem para as fases do luto que culminam na aceitação da perda sem dor. existirá essa aceitação mas creio que a dor ficará sempre ou então seríamos todos autómatos.
existirá uma saudade dos bons momentos, das risadas e até das ausências naturais em vida mas que sabíamos que culminavam num telefonema à noite.
aceitar que o telefone não tocará mais e de que já não há voz física do outro lado é o mais difícil. ficou aquele "até amanhã, filha".
tal como recentemente um chef conhecido desistiu da vida, fazendo a sua opção individual, também o corpo dos nossos sucumbe à linha do tempo. espero sinceramente que a paz abrace o meu pai, onde quer que esteja, numa praia distante ou numa rua de um outro espaço sideral a jogar ao berlinde, contente, como sonhei há semanas.
deixo uma frase que o meu pai dizia por vezes " és feliz?isso é que importa. nada mais."
[ à minha mãe, aos meus irmãos]
[ ao meu pai, com saudades]
@mmalheiro